quinta-feira, 30 de maio de 2013

Sonhos e a mão da vida


Dois anos depois de tirar um curso superior percebi que não me sentia realizada. Formei-me com honras, mas não me prepararam para lidar com o sofrimento daqueles que precisavam da minha ajuda. E essa foi tarefa que não consegui completar com eficiência. 

Quis mudar de vida. Voltei a olhar para cursos superiores, solicitei reuniões com directores de curso. Mas o que nem toda a gente sabe é que nessa fase abri a página oficial de acesso a um sonho antigo. Consultei os requisitos. Em teoria cumpria todos. Na prática... estatelei-me ao fundo de algumas dezenas de escadas e parti o cotovelo esquerdo nessa mesma semana. Na altura achei que estava óptima. O senhor que assistiu à cena de filme, que eu vivi em câmara lenta, correu na minha direcção [enquanto lhe ouvia uns "Ai meu Deus, ai meu Deus"] e ficou muito aliviado por eu não ter o rosto desfeito. Aparentemente estava à espera de me ver coberta em sangue o que me fez soltar uma gargalhada -- claramente não tive noção do perigo em que me vi envolvida. Aproveitei o riso rasgado para lhe perguntar se tinha partido algum dente. Disse que não (na verdade lasquei um, mas ele não notou). No hospital uma enfermeira perguntou-me muito irritada se não tinha idade para saber que não devo andar de carro sem cinto. Naquele instante lembrei-me do cinto que não colocaria: o de piloto no cockpit de um aparelho voador. A minha integridade física era um pré-requisito que agora não cumpria. 

Às vezes penso se esse episódio que impediu a minha candidatura à Força Aérea terá acontecido por um motivo de força maior. Se a vida quis orientar-me no sentido certo e para isso teve dar-me um empurrãozinho [nas escadas]. Acabei por ir às reuniões com os directores de curso, e em vez de iniciar uma nova licenciatura fui convidada a iniciar doutoramento, e com ele uma aventura extraordinária pelo mundo científico.

Mas outras vezes olho para trás e penso: "Um dia ainda vou aprender a pilotar".


13 comentários:

  1. Eu cá acho que uma queda nas escadas vêm sempre a calhar... tendo em conta tudo o que isso originou *.*

    [Já para não falar que TU seres militar seria estranho demais para mim :x]

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    1. :') Verdade ❤ Sempre assertiva, Lia ;)

      [A lista de coincidências é "coisa" para se estender pela eternidade... lol :')]

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    1. Pelas escadas? ;)
      No aspecto profissional andei às voltas mas fui parar à mesma área, ainda que agora na perspectiva da investigação :)

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    1. :') Se o meu sonho se concretizar, fica prometido, Canca.

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  4. A vida tem curvas que só muito mais tarde (e nem sempre) entendemos...
    Faças o que fizeres na vida fa-lo-ás sempre bem!
    Interessa que te sintas feliz!
    jinhossss

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    1. Obrigada, Suri :')
      Eu confio que o meu coração me leve pelos caminhos certos, mas se a vida der uma ajudinha é sempre bem-vinda :)

      Beijinhosss*

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  5. A FAP também já foi um sonho para mim, confesso :$
    Mas sei que nunca chegaria lá, porque tenho alguns problemas cardíacos :/

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    1. Que coincidência, Roger :)
      Quem sabe o futuro [a medicina a avançar, a engenharia aeronáutica a facilitar]? "Nunca" é muito tempo ;)

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    2. Nunca é muito tempo, de facto, mas os sonhos actualmente já são outros ;)

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    3. Nesse caso, fico a torcer por ti e pelos novos sonhos, Roger :D

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  6. Olá querida ABT,
    A vida é feita de sonhos e tudo na vida acontece por uma razão muito forte, tenho a certeza que foi um sinal muito forte para estares no caminho certo, o mundo espera muito de ti e sei que é nessa área.

    Às vezes, damos voltas e voltas, optamos por caminho diferentes mas somos sempre colocados no caminho certo, claro que temos o poder de decisão sempre nas nossas mãos mas muitas vezes precisamos de um sinal maior e foi o que aconteceu.

    A aflição do senhor fez me recordar um episódio bonito, no fundo há pessoas muito boas e que têm o poder de fazer magia, na vida delas e na vida dos outros, :)***

    beijinhos grandes e bom fim-de-semana, :)***

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