quinta-feira, 17 de abril de 2014

Abraços transatlânticos


Há coisas que uma pessoa só ama depois de ser dado a provar por pessoas especiais. Poemas são assim para mim. Só aprecio com moderação e se vindos de alguém que me diga muito ao coração. Como este, que me chegou do outro lado do Atlântico, de alguém com quem já não falo há mais de um ano, mas de quem guardo as mais bonitas recordações. A vida tem destas coisas meio parvas se a deixarmos... afasta-nos daqueles que nos fazem bem. Ser feliz exige atenção. E eu vou certificar-me que não me envolvo tanto na vida que deixo partes dela por viver.

"Tem gente que tem cheiro
de passarinho quando canta,
de sol quando acorda,
de flor quando ri.

Ao lado delas,
a gente se sente no balanço de uma rede
que dança gostoso numa tarde grande,
sem relógio e sem agenda.

Ao lado delas,
a gente se sente comendo pipoca na praça,
lambuzando o queixo de sorvete,
melando os dedos com algodão doce
da cor mais doce que tem pra escolher.
O tempo é outro.
E a vida fica com a cara que ela tem de verdade,
mas que a gente desaprende de ver.

Tem gente que tem cheiro
de colo de Deus,
de banho de mar
quando a água é quente e o céu é azul.

Ao lado delas,
a gente sabe que os anjos existem e que alguns são invisíveis.

Ao lado delas,
a gente se sente chegando em casa e trocando o salto pelo chinelo,
sonhando a maior tolice do mundo
com o gozo de quem não liga pra isso.

Ao lado delas,
pode ser Abril,
mas parece manhã de Natal,
do tempo em que a gente acordava
e encontrava o presente do Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro
das estrelas que Deus acendeu no céu
e daquelas que conseguimos acender na Terra.

Ao lado delas,
a gente não acha que o amor é possível,
a gente tem certeza.

Ao lado delas,
a gente se sente visitando um lugar feito de alegria,
recebendo um buquê de carinhos,
abraçando um filhote de urso panda,
tocando com os olhos os olhos da paz.

Ao lado delas,
saboreamos a delícia do toque suave
que sua presença sopra no nosso coração.

Tem gente que tem cheiro
de cafuné sem pressa,
do brinquedo que a gente não largava,
do acalanto que o silêncio canta,
de passeio no jardim.

Ao lado delas,
a gente percebe que a sensualidade
é um perfume que vem de dentro
e que a atração que realmente nos move
não passa só pelo corpo.
Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar.

Ao lado delas,
a gente lembra que no instante em que rimos
Deus está conosco, juntinho, ao nosso lado.
E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Tem gente como você,
que nem percebe como tem a alma perfumada
e que esse perfume é dom de Deus."                                  

Almas Perfumadas
Carlos Drummond de Andrade            


4 comentários:

  1. Olá querida ABT,
    Este pequeno texto leva-me a recordar que a distância não chega a existir para algumas pessoas, e isto porque os laços existem e vivem no nosso coração. O pequeno gesto só relembra que a amizade, o laço está bem vivo e bem presente na nossa vida e na vida dessas pessoas.

    Um poema muito bonito de um autor que eu gosto muito, :)***

    beijinhos grandes e desejos de um dia cheio de abraços deste tipo.***

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    1. É isso mesmo, Serginho :')
      Não te sabia apreciador de poemas :) Ainda bem que gostaste!
      Beijinho grande com muitos abraços desse lado também! :))

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  2. Que belo abraço. :)

    Outro do lado de cá. <3

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    1. Não foi, Canca? :')

      Completamente retribuído :) * * *

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