quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Dos dias em que não devia abrir o bico



Apesar de ser avessa à mentira, abro excepções para as mentirinhas piedosas. Mas não devia. Porque não me lembro de uma situação em que tenham acreditado em mim, e é muito pior a emenda do que o soneto.

A última vez que fiz uso dos meus (constestáveis) dotes de actriz, foi para dizer a uma amiga claramente arrependida da asneira que tinha feito, que não achava horrível o corte de cabelo que lhe levou os longos fios loiros e lhe deixou o couro cabeludo visível e uma franja ridícula. À pergunta "Que tal, gostas, ABT?" não me saiu som nenhum ainda que eu estivesse a acenar com sim com a cabeça. 
- Não gostaste nada... -- disse-me.
- Bem, eu preferia o teu corte de cabelo anterior, mas... está fresco, diferente e original! 
Lendo-me como se eu fosse um livro aberto, afirmou tristemente: 
- Achaste horrível!...

E do topo da minha estupidez respondi convictamente: "Ehh, então? Também não está horrível!" para logo me dar conta de que apesar de continuar a ser mentira (porque estava terrível, de facto) nem sequer foi uma boa e animadora mentira.

Enfim.

8 comentários:

  1. Quem não o faz de quando em vez?

    Beijinhos Marianos! :)

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  2. Sempre ouvi dizer "o mais verdade é sempre o que mais sofre". E é verdade, porque nas ocasiões como a que referiste não queremos magoar os outros mas também não conseguimos mentir e a coisa complica-se :/

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  3. Olá querida ABT,
    Há duas coisas que me incomodam na vida o silêncio e a mentira.
    O silêncio vou-me habituando a ele e vou fazendo uso dele, acho ainda que não há melhor resposta para algumas coisas do que o silêncio.
    A mentira eu não suporto mas não preciso de dizer nada e isto porque o meu olhar tem uma linguagem universal e as pessoas, ou melhor os meus amigos, já sabem.
    Imagino o que diz o meu olhar e por isso nem me vejo ao espelho muitas vezes porque acredito que me ia assustar comigo mesmo.

    No caso da tua amiga, apesar de ser uma situação não muito confortável o importante é que ela se sinta bem com ela mesmo e gosto de como está, :)

    Partilho também e estou de acordo com a opinião do Roger e cada vez mais gosto de pessoas assim em que um olhar diz tudo e não sabem mentir.

    beijinhos grandes e uma excelente semana.

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    1. Há dias assim, aprendemos ou devemos aprender com os erros.*

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    2. Olá Serginho,

      O silêncio e a mentira não têm ser sempre maus -- especialmente o primeiro. Porque quando não há nada de bom para dizer, mais vale calar, em vez de falar de coisas feias/más/desagradáveis. Relativamente à mentira, é como diz o post: mentirinhas piedosas podem fazer mais por alguém do que uma verdade nua e crua. Vê o exemplo em questão. Para quê confirmar à minha amiga aquilo que ela já sabia? Para a magoar? O cabelo demora a crescer, não é um erro que se possa corrigir do dia para a noite. Se ela gostasse do corte não precisaria buscar aprovação alheia. Então, se não gostava, porque não dizer-lhe que estava melhor do que pensava? Ela sentia-se melhor e nada de mal vinha ao mundo, por isso. Pelo contrário.

      No entanto, não posso dizer que gosto que me saibam mentir, pelo que de alguma forma concordo contigo. (Ainda que preferisse que soubessem, se usassem apenas e só este tipo de mentirinha.)

      Beijinhos grandes e uma excelente semana para ti também.

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