quinta-feira, 2 de maio de 2013

Solidão: essa criadora de ilusões





A sensível Canca perguntou como é que alguém pode dizer que gosta, se oferece silêncio e afastamento. E como é que a pessoa que percebe o afastamento continua a querer bem àquela pessoa e a querer a sua presença. 

Quem gosta de verdade e quer manter uma relação saudável, não se afasta. É como ter sede e recusar beber. Ninguém consegue raciocinar desidratado. O mesmo se passa com o Amor: exige a presença do ser amado. Mas amar é uma coisa, gostar é outra. Gostar é querer-bem, desde que isso não implique ajustes ao esquema de vida habitual. Amar é dar tudo e um bocadinho mais se puder ser. Ou até se não puder ser, como diria Pessoa.

Penso que o gostar é mútuo entre as pessoas enunciadas na questão. Nem ele faz um esforço para que se vejam e falem mais, nem ela (verdadeiramente) se importa. Admitir que "nem sempre precisamos de amor, às vezes só precisamos de alguém que esteja lá...", é o primeiro indício de que não é aquele ele em particular que lhe faz falta, e sim o sentimento de companheirismo, de parceria, de amizade que um dia pensou que teria fonte naquela pessoa. Mas não tem -- ou a fonte secou. E como tal faz-se essencial seguir em frente. 

Porque ninguém merece viver apenas de memórias...

7 comentários:

  1. Fizeste-me pensar, ABT!!! E muito! Mas as coisas às vezes na prática são sempre muito diferente! Amas na ausência, apaixonaste na solidão e não esqueces com o afastamento! E isto é o amor!
    Beijos grandes*

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    1. Mas não é *na prática* onde vivemos? As acções contam sempre incomparavelmente mais do que as palavras. E amar na ausência e não esquecer com o afastamento faz sentido, quando a ausência e a distância são impostas. Mas farão algum sentido, quando são uma opção?...

      Beijos maiores, Little Star :)

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  2. ABT, a tua forma de desmistificar os sentimentos é maravilhosa. :)
    "Gostar é querer-bem, desde que isso não implique ajustes ao esquema de vida habitual.", para um ele egoísta acredito que sim...
    "não é aquele ele em particular que lhe faz falta, e sim o sentimento de companheirismo, de parceria, de amizade que um dia pensou que teria fonte naquela pessoa." Verdade para uma ela que não acredita que haja amor se este não tiver como base um enorme querer bem, e uma amizade sincera...
    Ela parece-me que nunca vai entender que se diga gostar, sem respeitar, sem confiar, sem ser verdadeiro... quando as situações não são devidamente esclarecidas ficam sempre em nós, como fantasmas a assombrar-nos...

    Beijos

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    1. Obrigada Canca :) *

      "Ela parece-me que nunca vai entender que se diga gostar, sem respeitar, sem confiar, sem ser verdadeiro... quando as situações não são devidamente esclarecidas ficam sempre em nós, como fantasmas a assombrar-nos..." Compreendo perfeitamente que esse seja o fantasma que a atormenta: a falta de esclarecimento. Mas quando estamos magoados não vemos as coisas com clareza suficiente: ela *não precisa* das palavras e justificações de alguém que não é verdadeiro. Na verdade deveria desconfiar do discurso assim que deixa de ser coerente com as acções. Porque no dia-a-dia, isso é tudo o que importa: o que ele faz.

      E que maior esclarecimento poderá ela querer, do companheiro que teria ao seu lado, se ele não lhe oferece respeito e confiança? Que tipo de cedências (pessoais, emocionais, de ideais) teria ela de fazer para que uma relação sem esses pilares pudesse dar certo? E porquê ajustar-se, tão negativamente, a alguém assim? Ela merece mais. Merece: a pessoa certa.

      *

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    2. É isso ABT, para que deixar de ser verdadeiro e embarcar numa mentira?!... Ela tem demasiada vontade em acreditar, talvez porque imagina os outros como ela, e deixa-se iludir, ilude-se... no fundo ela sabe que não é assim... tem de parar de olhar para trás.

      Beijos

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    3. Tens toda a razão, Canca.
      Mas tenho a certeza que ela vai vencer.

      Beijos e um abraço forte*

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