sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

A vida de um aluno de doutoramento


Por mais que nos recusemos a entrar no retrato do que é ser um aluno de doutoramento, não há volta a dar: quando se começa este grau entramos numa espécie de outra dimensão que tem por único objectivo mostrar-nos aquilo em que somos maus. Pobre capacidade de organização de dados? Vai tornar-se evidente quando for necessário escrever sobre materiais e métodos. Dificuldade em falar em público? Depois das primeiras ameaças de ataque cardíaco em conferências internacionais, isso passa.  Tendência a desistir à primeira dificuldade? Depois de 135 tentativas falhadas de fazer o teu projecto funcionar (sem poder desistir porque é o tópico da tese!), isso também passa. E a lista é interminável. 

O meu problema é (apesar da minha luta permanente) ser perfeccionista. E este defeito não cabe em ciência porque a nossa investigação é parte de um todo que, apenas unido, faz sentido. Achar que podia melhorar a minha investigação, antes de publicar, até não restar nenhuma pergunta, é tão inocente que quando olho para trás até me dá vontade de rir. [Ou de chorar -- se calhar a última opção é mais acertada.] 

Tudo para dizer que seja qual for o motivo, há sempre pelo menos um, que nos abranda (no início, no meio ou no fim do percurso) e prolonga a conclusão do doutoramento. Então não é difícil perceber porque é que esta tira é a segunda mais popular da banda desenhada PHD Comics:

Numa tradução livre:
- Quero apresentar-te à Beth, uma aluna de doutoramento da antropologia. 
- Olá, como vai a tua investigação? - pergunta o aluno de licenciatura novo no mundo dos doutoramentos.
- *Smack* Qual é o teu problema?! - pergunta o rapaz que fez a introdução - Não sabes que não é elegante perguntar isso a um aluno de doutoramento?!
- Eu-eu... lamento. Hum, então... Quanto tempo até terminares a tese?
- *Smack* Meu Deus, porque é que não lhe perguntas também quanto pesa ou que idade tem?!

Ler algumas destas tiras traz-me o conforto que só a empatia oferece.
Quando esta fase terminar nem vou acreditar :P

4 comentários:

  1. :(

    Nem parece um texto teu, aliás assim de repente pensei que me tinha enganado no blogue mas não.
    Vai correr tudo bem e discordo de uma coisa o problema não é ser perfeccionista, o problema é não ir mais além, não dar tudo por tudo e deixar de acreditar.

    Por isso muito resumidamente, eu não li este texto e vai correr tudo bem, sabes que fico a torcer, :)

    beijinhos e bom fim-de-semana.

    PS: Amanhã envio-te o e-mail mas já tens lá um, digo eu.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Talvez não tenha conseguido passar a mensagem da forma mais eficiente, Sérgio: não estava a queixar-me de o doutoramento ser um problema sem solução. Pelo contrário: é uma ferramenta que permite descobrir quais são os nossos pontos fracos (o que é positivo) e forçar-nos a lidar com eles (porque não podemos fugir) até os ultrapassarmos.

      No meu caso ser perfeccionista implicava uma necessidade de descobrir todas as vertentes de um problema, através de um projecto só, antes de me permitir publicar. E isso não é possível, porque há literalmente centenas de coisas que podes estudar dentro de um sistema. Não é o papel de um cientista publicar um artigo científico com muitos tópicos de estudo, por várias razões, entre elas:
      1) Porque por definição um artigo deve ter um problema de estudo e não vários;
      2) Enquanto não publicamos estamos a impedir que outros cientistas tenham acesso a informação que poderia ajuda-los a resolver os seus próprios puzzles.

      E para mim a última é muito importante, porque ao querermos fornecer mais informação (estudando mais antes de publicar), estamos a impedir que outros sejam ajudados.

      Juntos somos sempre mais fortes. E na ciência não é diferente :) Partilhar é a palavra de ordem. A natureza nunca deixará de ter mistérios... Os cientistas têm de estudar pequenos pedaços e partilhar. Estudar pequenos pedaços e novamente partilhar, em vez de reter a informação na fonte, na ânsia de poder oferecer uma informação virtualmente perfeita.


      Era isso que queria dizer :) Bom fim-de-semana* Beijinhos

      Eliminar
    2. Eu estava me a meter contigo, eu percebi isso e na ciência só a partilha de pequenas descobertas e conhecimentos é que se abre caminho para uma descoberta ainda maior.
      A partilha de conhecimento e experiências é fundamental.

      Mas obrigado pela explicação detalhada, é sempre um prazer ler as tuas palavras.

      beijinhos e bom fim-de-semana.

      Eliminar
    3. Obrigada eu, pelo carinho em todas os comentários :)
      Beijinhos e diverte-te este fim-de-semana

      Eliminar

Outros pensamentos