quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Das decisões que mudam uma vida



Desde que aprendi a ler a minha vida mudou para melhor. No Natal, a esmagadora maioria dos meus presentes eram livros e eu sentia-me a criança mais sortuda do mundo. A Editorial Pública foi a minha melhor companhia, nesse começo. Lembro-me com especial carinho dos livros O caminheiro, Um bom diabrete ou Os dois patetas da russa Sophie Rostopchine; O castelo encantado e O diário de Miss Grey das britânicas Edith Nesbit e Anne Brontë, respectivamente.

Só bastante mais tarde as publicações Dom Quixote entraram na minha vida -- e com a editora os clássicos de Lewis Carrol, Henry Haggard e outros. A minha prima J, quatro anos mais velha do que eu, acrescentava à lista a partir da sua própria casa. A minha prima preferida e a minha tia preferida, com mais livros maravilhosos: no mesmo espaço. O paraíso, portanto -- onde todo o tipo de aventuras aconteceram.

E foi exactamente a minha prima J que me introduziu ao maravilhoso mundo de Sofia de Melo Breyner através d'A Menina do Mar e d'A Fada Oriana, e mais tarde à colecção Uma aventura, de Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães. No 9º ano tive oportunidade de conhecer uma das autoras desta colecção na sequência do concurso escolar "Uma aventura [na cidade onde eu estudava]" que acabei por vencer. Foi para mim um dia muito especial que terminou com livros assinados e uma dedicatória bonita. 

Sem surpresa, na pré-adolêscencia estava convicta que a minha vida seria escrever. Aproveitava cada momento a sós para contar o meu dia a um pedaço de papel perfumado e para criar histórias. Sentia-me dentro das aventuras que criava. Os meus amigos fomentavam a minha paixão e pediam-me por novas aventuras com frequência. Não raras vezes escrevia por e para eles. 

No momento de passagem para a escola secundária, os professores de ciências debatiam-se com os de humanidades e eu acabei mesmo por seguir a opinião dos primeiros e optar pelo agrupamento "científico-natural", como lhe chamavam na altura. Nunca me arrependi. Mas olho para trás com um sorriso e para a estante de livros daquela época com muito carinho. Tenho certeza que o sentimento de estar sempre acompanhada se deveu tanto à minha família quanto aos meus amigos. E os livros, sem exagero, fazem parte do meu grupo de amigos.

Por causa do meu trabalho, hoje em dia escrevo bastante mais em Inglês do em Português. Já não me sinto tão confortável com as palavras na minha língua nativa. Às vezes acho que desaprendi. Este blogue tem também essa finalidade: devolver-me a fluência na nossa língua enquanto recordo o prazer de escrever um diário.


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