terça-feira, 13 de novembro de 2012



Às vezes para sermos felizes temos de ter noção de tudo aquilo a que estamos habituados continua a ser espectacular e continua a merecer foguetes todas as manhãs. Chamam a isso "apreciar as pequenas coisas".
Claro que quando me espalhei no fundo de umas dezenas de escadas e fiquei parada dois meses fruto das lesões, a minha saúde não me pareceu uma pequena coisa. Mas não precisei de muito tempo para me habituar a ter saúde novamente, volvido esse período.
O mesmo se passa com o meu espaço pessoal, a que tanto valor dou. Em Portugal até me esqueço o quanto aprecio a minha casa. Posso passar dias sem apreciar o jardim, ou mesmo os cómodos. Sento-me à secretária e tudo o que me rodeia não existe enquanto trabalho. Dou tanto valor ao meu stress, que deixo de apreciar a serenidade e beleza do lar. Quando mudei de país receberam-me numa residência de pós-graduados. A cozinha e casa-de-banho comunitários quase me provocaram um ataque cardíaco apesar da limpeza diária por uma equipa externa (perdoem as pessoas que tiveram cadeiras de microbiologia -- nunca mais são seres humanos normais). Enquanto não saí para um apartamento só meu não descansei, mas logo me habituei a ser feliz
Com o êxito pessoal sou ainda mais rápida. Poderia confirmar quem me conhece que saboreio uma grande vitória durante umas horas com toda a euforia, e no fim do dia já não acho nada de especial. 
O estado de habituação entorpece-nos os sentidos, torna-nos mal agradecidos. Talvez tenha sido a forma que a vida encontrou para forçar-nos ao movimento, a percorrer mais, a buscar mais. Mas a constante ansiedade em relação ao futuro rouba-me o prazer proporcionado pelo presente. E sempre que faço este exercício mental, a conclusão é sempre semelhante: o retorno à serenidade é essencial. Ter noção de que se o que me move é a urgência, vou continuar a apreciar as delicias de vida como quem engole um manjar sem mastigar.


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